UNESCO – Ética na Inteligência Artificial

E assim, temos a Ética outra vez. Agora à volta da Inteligência Artificial, AI, acrónimo internacional. A equação é simples: para que a indústria AI funcione sem problemas de maior, terá de oferecer explicabilidade e alguma transparência dos algoritmos em que se baseia. Ou seja, para que a Indústria seja bem sucedida no seu negócio tem de inspirar e manter confiança nos seus públicos.

Houve sempre quem se deslumbrasse perante uma nova tecnologia, anunciando que o mundo nunca mais seria o mesmo.

Mas o mundo permaneceu o mesmo. As Pessoas continuaram a querer fazer as suas vidas em Paz e com bem-estar, estar livres da pobreza e da fome, ter acesso a cuidados de saúde e criar os seus filhos dando-lhes boa educação, serem respeitadas e sentirem-se tratadas como iguais, mulheres ou homens, de qualquer cor de pele, ou qualquer que seja a sua preferência pessoal nos vários domínios da vida.

Fazer o bem e o fazer mal continuaram a ser uma opção, nem sempre clara, nunca fácil, mas não mudaram bases de valores e princípios que orientam para vidas mais felizes, empresas mais bem sucedidas no médio e longo prazo (mesmo que a curto prazo pareçam perder oportunidades de lucros fáceis) , instituições mais robustas e respeitadas, países que oferecem aos seus povos melhores condições de vida.

Isso mesmo sentiram os “founding parents” que nas Nações Unidas, em 2015, lançaram a grande e global Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com os seus 17 Objetivos e 169 metas, verdadeiro guia para toda a Humanidade criar melhores condições de vida e trabalho para as Pessoas ao mesmo tempo que restaura uma relação com a Natureza que se encontra ainda profundamente degradada.

São assim propostos novos valores e princípios de uma Ética da Sustentabilidade, ou para uma economia global. Mas, pasme-se, só parecem novos porque os tínhamos esquecido, no deslumbre do crescimento sem fim, da prosperidade sem preço, do ter sem ser, do possuir sem servir, do gozar sem tempo futuro, do abuso sem respeito.

Quando começámos a compreender todo o dano que a economia sem valores causa(va) traduzimos isso na linguagem do tempo – não era Ética o que faltava, mas sim lidar com o “risco” – e inventariaram-se os Riscos.

Mas antes disso era essencial colocar a pergunta – porque há Riscos? A resposta foi “porque as Pessoas reagem ao que lhes parece errado”. E daí? E daí deixam de comprar, de investir, de preferir, de apoiar. E daí? E daí as ações perdem valor, as empresas não conseguem obter recursos e as administrações são despedidas.

A conclusão é óbvia – ou nos portamos bem, ou teremos de gastar muito dinheiro em comunicação e reputação, com resultado sempre duvidoso, para mais numa era de redes sociais. É melhor portarmo-nos bem, é mais barato e produz Confiança.

Mesmo que queiram evitar a palavra, aí está a ética outra vez, a discussão e reflexão sobre o que é bom ou mau para a vida e sobrevivência de pessoas, empresas e instituições.

E se isto ainda era pouco claro então a UNESCO mostrou que na AI teria de ser muito claro. Porque os impactes de o não ser podem ser muito danosos para a Confiança e, portanto, para a AI, enquanto Indústria, e para a Humanidade, ainda impreparada para lidar com estas novas ferramentas tecnológicas. Como é obvio alguns estarão demasiado embrenhados no jogo da concorrência e do “sucesso” que não quererão ouvir ou levar em conta os Riscos que aqui estão subjacentes, mas teremos de mostrar que o verdadeiro sucesso, como em anteriores revoluções tecnológicas se viu, está no serviço às Pessoas, melhorando a sua vida e condições de trabalho.

A UNESCO produziu uma Recomendação em Ética na Inteligência Artificial, que surge agora como de adoção urgente e indispensável, para proteção de todos, incluindo a própria Indústria de AI, até como forma de sobrevivência de empresas sujeitas a obrigação de relatório de sustentabilidade, em modelo ESG, ou outro.

De facto, a Governação das oportunidades e riscos associados à produção e à utilização de Algoritmos AI terá de ser uma preocupação da Gestão das Organizações utilizadoras, que não poderão dissociar-se dos eventuais desvios e responsabilidades que os seus algoritmos originem. Seguradoras poderão ter de explicar discriminações e fornecer fundamentação, Bancos explicar créditos, Hospitais explicar prioridades, Autoridades explicar perceção de possíveis comportamentos, Plataformas explicar sugestões de escolha, etc, etc.

O passado estatístico não poderá ter como consequência a perpetuação de discriminações e preconceitos, mas isso implicará uma atenta observação pela Sociedade dos reais impactes de cada Algoritmo para proporcionar aos seus fabricantes e utilizadores oportunidades de melhoria, para benefício da Indústria de AI e de todas as suas Partes Interessadas. Não se trata de descobrir malefícios, mas sim de identificar oportunidades de melhoria. Porque estamos a falar de ética e isso significa assumir que todos estarão interessados em fazer o Bem, até evidência em contrário.

A AI poderá ser uma imensa oportunidade de criação de riqueza para a Economia em Portugal. Mas teremos de, coletivamente, todas as Partes Interessadas, compreender os desafios da Indústria e de a orientar para o bem comum, defendendo e melhorando o nosso património de valores civilizacionais, sempre com a Pessoa no centro, com a sua belíssima diversidade, não deixando ninguém para trás.

É a grande mensagem da Agenda 2030 das Nações Unidas e, neste ano em que o Governo vai apresentar o 2º Relatório Nacional Voluntário ao UN High Level Political Forum , sejamos firmes na continuação dos esforços que muitos milhares de organizações, da administração central e local, empresariais e de serviço, publicas e privadas, realizam para a concretizar.

 

10 de Abril de 2023

 

Mário Parra da Silva, APEE, Presidente da Direção

Chair of the Board do UN Global Compact Network Portugal

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